Como os revestimentos NanoFood reduzem as perdas pós-colheita e aumentam a rentabilidade na cadeia de tomates

O que acontece logo após a colheita

O tomate é amplamente reconhecido como uma das commodities hortícolas mais perecíveis em função de sua natureza climatérica — ou seja, continua o processo de amadurecimento mesmo após a colheita, o que leva à antecipação da senescência e à rápida deterioração da qualidade. Em temperatura ambiente, sua vida de prateleira raramente ultrapassa sete dias, podendo se estender para 14 a 20 dias quando armazenado entre 13 e 15 °C . Essa curta durabilidade está associada a uma série de fatores fisiológicos e físicos, como elevada taxa respiratória e intensa biossíntese de etileno, que aceleram o amadurecimento; suscetibilidade a injúrias de frio em baixas temperaturas; elevada perda de água, resultando em murchamento e enrugamento da epiderme; e sensibilidade a danos mecânicos devido à textura delicada do fruto. Além disso, a alta vulnerabilidade a infecções microbianas contribui para perdas pós-colheita que variam entre 20 % e 40 % da produção global, alcançando cerca de 14 % em países produtores como a Índia, quando considerados os estágios de colheita, armazenamento, embalagem e transporte (Yadav et al 2022). Esses números refletem um problema de escala mundial, que compromete a segurança alimentar e a rentabilidade agrícola, especialmente em cadeias curtas e climas tropicais. É nesse contexto que os revestimentos desenvolvidos pela NanoFood surgem como uma solução tecnológica eficaz, sustentável e de alto impacto econômico.

Os revestimentos comestíveis à base de biopolímeros atuam como barreiras semipermeáveis que regulam a difusão de gases (O₂ e CO₂) e vapor d’água entre o fruto e o ambiente. Essa camada forma um microambiente modificado na superfície, retardando a respiração e a produção de etileno, além de reduzir a desidratação e o escurecimento enzimático. Quando associados a nanomateriais funcionais, esses sistemas adquirem características superiores: maior resistência mecânica, melhor controle de trocas gasosas, propriedades antimicrobianas e estabilidade térmica aprimorada. Estudos mostraram que revestimentos contendo nanopartículas aplicados sobre tomates retardam a maturação, reduzem em mais de 40 % a perda de massa e mantêm teores de licopeno e vitamina C por períodos de até 25 dias superiores ao controle. Esse desempenho está relacionado à dupla função das nanopartículas: de um lado, elas preenchem lacunas da matriz polimérica, aumentando a tortuosidade e dificultando a passagem de gases; de outro, exibem efeito antimicrobiano frente a espécies como Rhizopus stolonifer, Alternaria alternata e Botrytis cinerea, principais responsáveis por perdas na cadeia do tomate (Venkatachalam et al 2024; Yadav et al 2022; Mellidou et al 2021; Sanchez-Moreno et al, 2006).

Os trabalhos conduzidos pelo grupo de pesquisa Nanotec, cujo líder Prof. Igor Boggione é sócio-fundador da NanoFood, demonstram a aplicabilidade prática dessa abordagem. Schlogl et al. (2024) avaliaram a incorporação de nanoestrutura em matriz de goma de Tara, observando redução significativa da perda de massa, manutenção da firmeza e atraso da senescência em goiabas tratadas, efeito atribuído à sinergia entre a natureza hidrofílica do polissacarídeo e as propriedades biológicas do nanocomponente. Esses resultados servem de base para o desenvolvimento de sistemas equivalentes direcionados à conservação do tomate, fruto com comportamento fisiológico semelhante e igualmente beneficiado pela modulação de trocas gasosas e controle microbiano.

A aplicação prática do revestimento NanoFood ocorre por imersão ou pulverização logo após a colheita. A película formada adere de modo uniforme à epiderme do tomate, atuando como barreira física e biológica. Durante o armazenamento, a taxa respiratória é atenuada, a perda de umidade diminui e a incidência de fungos pós-colheita cai drasticamente. Estudos recentes conduzidos pela NanoFood comprovaram a eficácia do revestimento Q-Shield na conservação de tomates. Observou-se que os frutos tratados apresentaram maior firmeza e coloração mais uniforme, além de uma redução expressiva na incidência de podridões em comparação ao grupo controle. Em relação à perda de massa, os tomates revestidos com Q-Shield mantiveram cerca de 80% da massa inicial, resultando em uma perda aproximada de 20% ao final do período de armazenamento, enquanto os frutos sem revestimento apresentaram uma redução média de 30%. Esses resultados evidenciam a eficiência do Q-Shield como barreira protetora, retardando os processos de degradação e contribuindo significativamente para a manutenção da integridade física e visual dos frutos ao longo do tempo. Ao utilizar matérias-primas naturais, biodegradáveis e atóxicas, como gomas vegetais e nanocelulose bacteriana, os revestimentos NanoFood alinham-se às metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 12 e 13), reduzindo a dependência de polímeros petroquímicos e diminuindo o impacto ambiental das embalagens convencionais.

Os benefícios econômicos dessa tecnologia são expressivos. A redução das perdas pós-colheita aumenta diretamente o volume comercializável, diminuindo custos de descarte e perdas logísticas. Além disso, o prolongamento da vida de prateleira amplia a janela de comercialização, permitindo que produtores atinjam mercados mais distantes sem necessidade de refrigeração intensiva. A manutenção da qualidade externa — firmeza, cor e brilho — e interna — teor de sólidos solúveis, acidez e compostos bioativos — resulta em produtos com maior valor agregado e aceitação pelo consumidor. A redução nas perdas pós-colheita de tomates é importante para a rentabilidade da cultura. O emprego de inovações como as tecnologias de barreira nanoestruturadas (a exemplo do revestimento NanoFood) é essencial para prolongar a vida útil dos frutos e preservar a sua qualidade, minimizando as perdas logísticas e de armazenamento. Desse modo, a tecnologia atua como um vetor de competitividade e sustentabilidade, otimizando a eficiência e o valor agregado para toda a cadeia agroindustrial (EMBRAPA, 2019)

A integração dessa tecnologia ao manejo pós-colheita é simples e adaptável a diferentes escalas de produção. O revestimento pode ser aplicado em unidades de beneficiamento, cooperativas ou packing houses, sem necessidade de equipamentos complexos. Sua formulação à base de goma natural e nanoestruturas dispersas em meio aquoso facilita a adoção por pequenos e médios produtores, além de atender às exigências regulatórias de segurança alimentar e ambiental. A longo prazo, espera-se que o uso disseminado dos revestimentos NanoFood contribua para reduzir o desperdício alimentar, aumentar a eficiência logística e promover uma produção de tomates mais sustentável e lucrativa.

Referências

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Hassan, M., Liu, H., & Wang, C. (2022). Advances in edible nano-coatings for extending shelf life of fresh produce: mechanisms and applications. Journal of Food Science, 87(12), 5560–5578. https://ift.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/1750-3841.16145

Gull, R., Peralta-Ruiz, Y., & Hernandez-Montiel, L. (2024). Recent advances in sustainable postharvest coatings: challenges and perspectives. Foods, 13(7), 1000. https://www.mdpi.com/2304-8158/13/7/1000

Dang, Y., Wu, Y., & Liu, J. (2025). Development of nanostructured chitosan–ZnO coatings for tomato preservation and microbial control. Heliyon, 14(5), e28475. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2214289425001401

EMBRAPA. Cera de carnaúba com nanotecnologia aumenta tempo de prateleira de frutos. Brasília, DF: Embrapa, 2019. https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/44341675/cera-de-carnauba-com-nanote cnologia-aumenta-tempo-de-prateleira-de-frutos.

Jin, C., Wang, M., & Zhao, L. (2024). Postharvest quality improvement of tomato (Solanum lycopersicum L.) fruit using a nanomultilayer coating containing Aloe vera. International Journal of Food Science & Technology, 59(3), 1353–1367. https://academic.oup.com/ijfst/article/57/3/1353/7806704

Mellidou, I.; Koukounaras, A.; Kostas, S.; Patelou, E.; Kanellis, A.K. Regulation of vitamin C accumulation for improved tomato fruit quality and alleviation of abiotic stress. Genes 2021, 12, 694. https://www.mdpi.com/2073-4425/12/5/694

Sanchez-Moreno, C.; Ancos, L.P.B.D.; Cano, M.P. Impact of high-pressure and traditional thermal processing of tomato puree on carotenoids, vitamin C and antioxidant activity. J. Sci. Food Agric. 2006, 86, 171–179. https://scijournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/jsfa.2321

Schlogl, A. E., Bianchi, J. R. D. O., Gonçalves, L. D. P., Magalhães, G. L. D. S., Aguiar, A. C. A. D. S., Lopes, R. P., … & Santos, I. J. B. (2025). Tara Gum Nanochitosan-Based Coatings to Extend Guava Shelf-Lives. Coatings, 15(1), 44. https://www.mdpi.com/2079-6412/15/1/44

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